quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Especialista em Pedagogia Social ressalta a importância da interação família-escola

A especialista em Pedagogia Social, Bel Santos Mayer
(foto: 
LiteraSampa)
O Blog Educação, mantido pelo projeto Parceria Votorantim pela Educação, entrevistou a especialista em Pedagogia Social pela Universidade Salesiana de Roma, Bel Santos Mayer, sobre a importância da participação das famílias e da comunidade para a garantia do direito à educação e sobre alguns dos principais desafios da mobilização social. A educadora tem uma longa trajetória relacionada a organizações sociais que trabalham em prol da mobilização social pela educação, em especial em bairros periféricos da cidade de São Paulo, e já participou de projetos de equidade racial e de gênero na educação e de capacitação em direitos humanos. Atualmente, é uma das coordenadoras do Polo de Leitura LiteraSampa e atua no Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário – Ibeac.

Confira abaixo a entrevista: 

Blog Educação – Qual a importância da mobilização da sociedade para a melhoria da educação?
Bel Santos Mayer – Eu não consigo pensar a melhoria da educação sem o envolvimento de toda a sociedade. Se, por um lado, todos nós reconhecemos que a educação é primordial para a melhora da realidade do país, e estamos sempre admirando os países que investiram em educação, por outro lado existe uma postura da maior parte da sociedade de terceirizar a questão da educação, de achar que é responsabilidade somente do Estado e dos educadores. Na minha compreensão, a ideia de que é preciso toda uma aldeia para se educar uma criança, um adolescente, um jovem, é mais do que verdadeira. A única possibilidade de a educação ter sentido para a vida, para a comunidade, é se todos nós estivermos envolvidos com ela.
Blog Educação – Nesse sentido, qual a importância, em particular, do envolvimento da família na educação de crianças e adolescentes?
B. S. M. – Um ganho que nós tivemos no processo de democratização do país foi o Artigo 225 da Constituição, que diz que para garantir o direito das crianças e dos adolescentes deve haver o envolvimento do Estado, da família e de toda a sociedade. E o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA reforça isso. Não é possível que o Estado dê conta sozinho. É responsabilidade dele a oferta do equipamento físico, dos educadores, mas a qualidade da educação e o desenvolvimento dessa educação tem de ser um compromisso da família e da sociedade. O que vai conferir à criança a noção da importância da educação? É o quanto aquela educação e aqueles conhecimentos são valorizados pelas pessoas que ela ama. Quando a família se envolve, está dizendo para a criança que esse aprendizado é importante.
Blog Educação – Você mencionou o ECA, que coloca como direito da criança e do adolescente também a convivência familiar e comunitária. Estes direitos que andam de mãos dadas seriam o direito à educação e o direito à convivência familiar e comunitária?
B. S. M. – Exatamente. Se você for pensar, o que a gente tem como espaços de convivência, falando das áreas mais periféricas, que são muito carentes de espaços culturais, são os espaços da saúde e da educação. O espaço da saúde, por mais que a gente tenha um discurso preventivo, em geral só se vai até ele quando existe a falta de saúde. O espaço que garante a continuidade, a intencionalidade e a convivência é a escola. Este espaço precisa se abrir, pois a criança chega à escola com sua família, com sua história e com a história da sua comunidade.
Blog Educação – Do ponto de vista do mobilizador social, quais os principais desafios que precisam ser superados para mobilizar uma comunidade em prol da educação?
B. S. M. – O primeiro desafio é a questão do preconceito. Existe uma tendência de olhar para a comunidade como um poço de carências. A gente olha para tudo aquilo que falta: os pais não são escolarizados, a região é carente, a família não participa. É preciso superar esse olhar tendencioso e preconceituoso. O que essa comunidade tem? Quais são as histórias dessa comunidade que merecem ser evidenciadas e fazer parte do currículo da escola?
Um segundo desafio é criar espaços efetivos de participação da família e da comunidade. Existe uma tendência a envolver a comunidade como plateia e não como ator. Preparar um evento para a comunidade olhar é uma forma de ela fazer parte, mas não é suficiente se a gente quer que aquela família e aquela comunidade acompanhem o currículo da escola. É preciso pensar canais de participação efetivos em que as pessoas não se sintam melindradas. Como fazer das reuniões de pais, por exemplo, um momento de comunicar a proposta da escola, seu projeto político pedagógico, as possibilidades de participação.
Blog Educação – No caso da pessoa que vive em determinada comunidade e que tem interesse em contribuir para a melhoria da educação no seu bairro ou na sua cidade, que caminhos ela pode buscar?
B. S. M. – Eu tenho visto experiências muito interessantes. Uma forma de participação é a escola hospedar eventos que acontecem dentro da comunidade. Tenho visto muitas regiões que ocupam espaços diversos, desde bares, como a experiência dos saraus literários de São Paulo, da Cooperifa, até cemitérios, como no caso da biblioteca comunitária de Parelheiros. Outro canal que eu acredito que funciona bastante é o jornal mural, localizado no pátio da escola. Quando vou a uma escola, observo o conteúdo desse jornal mural. Se ele fala apenas sobre o que está acontecendo na escola ou se é um espaço de comunicação sobre o que a comunidade faz. Também existem canais mais formais, como os conselhos e as associações de pais e mestres.
Por Bernardo Vianna / Blog Educação

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