A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB,
instituída em 20 de dezembro de 1996, prevê, no Artigo 12º, que os
estabelecimentos de ensino têm, entre outras atribuições, a missão de
elaborar e executar sua proposta pedagógica. O Projeto
Político-Pedagógico – PPP da escola deve atender as normas da legislação
e nasce a partir de uma série de debates sobre as concepções de ensino
da escola, promovidos entre professores, alunos, equipe de apoio e
comunidade.
Segundo o professor de filosofia e consultor de gestão escolar da Escola Vera Cruz, José Auri Cunha, a LDB
permite que a escola defina, politicamente, o lugar que ocupa na
sociedade por meio de seu projeto de formação do futuro. “O PPP é o
coração da identidade da escola, da proposta do ensino fundamental e
médio. Existem questões que o projeto tem que responder para ser
político, e também pedagógico, como, por exemplo, ‘que ser humano
queremos formar?’; ‘que sociedade?’; ‘para qual sociedade?’; ‘onde
queremos inserir esse cidadão?’. Essas são algumas perguntas que o PPP
precisa responder para que se tenha efetividade e as respostas devem
estar presentes na sala de aula, na sequência didática”, explica.
Escola Cidadã – Porto Alegre
Em Porto Alegre (RS), a partir de debates realizados para a
transformação da escola e de todo o sistema de ensino, foi criado, no
ano 2000, o Projeto Escola Cidadã. Segundo conta a presidente da Comissão de Educação, Cultura, Esporte, Lazer e Juventude da Câmara Municipal de Porto Alegre,
Sofia Cavedon, por meio das discussões realizadas no período, ficou
entendido que era preciso ocupar, também, um espaço político para
reforçar e revigorar a qualidade da Educação no município.
Segundo Cavedon, com um processo participativo, realizado em rede, as
escolas passaram pelo desafio de construir ou reconstruir seus Projetos
Políticos-Pedagógicos, a partir dos novos princípios debatidos. “Assim
como acumulamos um debate grande de redes e seminários, também
respeitamos a autonomia de cada escola. Não adianta apenas fazermos o
debate geral da rede, queremos uma escola emancipatória, com uma
avaliação para a inclusão, com um currículo significativo, que tenha a
ver com a realidade dos alunos e que seja desregular ao tempo, para
garantir a diferença. Após essa etapa, focamos na elaboração e tradução
desses grandes princípios de rede em cada escola e o PPP é o documento
que traduz esse posicionamento”.
Ainda de acordo com Cavedon, “o PPP torna visível a escola desejada” e precisa estar alinhado à LDB, ao núcleo escolar e ao Conselho Municipal de Educação.
“O projeto não pode, obviamente, ser um bonito objeto de construção e
depois ser engavetado. Para isso, trabalhamos com a vitalidade das
instâncias de gestão democrática da escola e da rede. Construímos, em
Porto Alegre, um conselho escolar que é o órgão máximo, que opina sobre o
currículo, sobre a avaliação e o calendário. Ele é paritário entre
aluno, professor e funcionário. O conselho escolar vivo e
representativo, o tempo todo, é o lugar de verificação e de reavaliação
das estratégias estabelecidas para cumprir e desenvolver o PPP”, conta.
Cidadania e Participação – Distrito Federal
Situada no Distrito Federal (DF), a Escola 304 Norte reavalia,
anualmente, o seu Projeto Político-Pedagógico. A instituição, que atua
com alunos do 1ª ao 5º ano, começou, em 2012, a receber crianças a
partir dos 6 anos de idade e, durante a avaliação realizada no final do
mesmo ano, foram sugeridas alterações para atender as novas demandas.
Com o objetivo de entender o que era preciso mudar e que novas ações
incluir no PPP, a gestão elaborou uma pesquisa que envolveu toda a
comunidade escolar.
Segundo a vice-diretora, Narelaine Gomes Neves, a pesquisa de opinião
envolveu famílias, alunos e profissionais da educação e, por meio de um
formulário, a escola foi analisada em diversos aspectos. “Nesse
processo, a pesquisa de opinião foi essencial. Compilamos os dados e
reunimos a comunidade para discutir. Separamos grupos de interesse por
assunto, reunimos as ideias e listamos o que, nos grupos, consideramos
mais importante. Com base nas discussões e estudos, escrevemos o PPP e
repassamos por e-mail para alguns pais que se dispuseram a ler. Fizemos as alterações necessárias e apresentamos à comunidade em assembleia”, relata.
A Escola 304 Norte tem, no seu PPP, a finalidade de
desenvolver sujeitos e construir relações de cidadania com a
participação de todos. “O diferencial é o diálogo com as crianças, com
os profissionais, entre colegas, e com as famílias. É a partir dele que
reconhecemos e compreendemos o outro. O PPP é o retrato
da escola e seu principal objetivo é mostrar a realidade da instituição
e nortear o trabalho dos profissionais. O maior desafio da nossa
escola, hoje, é manter a participação das famílias durante o ano letivo.
Para que seja possível cumprir esta missão, é imprescindível que a
escola organize os conteúdos que devem ser trabalhados, distribuindo-os
em atividades que envolvam os interesses das crianças e atendam suas
necessidades”, afirma Neves.
Educação inclusiva – São Paulo
O Centro Integrado de Educação para Jovens e Adultos do Campo Limpo – CIEJA CL,
localizado no Parque Maria Helena, bairro da periferia da cidade de São
Paulo, é reconhecido, atualmente, como referência em educação
inclusiva. As mudanças começaram com a abertura para discussão sobre o
papel da escola na comunidade e a construção de um Projeto
Político-Pedagógico que respeitasse a diversidade. Na escola, os
horários e a grade curricular foram pensados, especialmente, para
facilitar a aprendizagem dos alunos que trabalham, estudam ou possuem
necessidades especiais.
De acordo com a coordenadora geral do CIEJA CL, Êda
Luiz, o PPP da instituição valoriza a construção de um espaço público
democrático, que conte com a participação de todos. As decisões são
tomadas sempre em assembleias. “Formamos uma escola de portões abertos,
para que a comunidade se aproprie do espaço público, utilizando nossa
sala de leitura comunitária, a sala de informática, as atividades
coletivas de formação e informação, oferecidas por nós ou pelos
parceiros. Acreditamos que o CIEJA CL está inserido
nessa comunidade e dela faz parte, por isso tecemos uma “rede” para
resolvermos nossos problemas, para ajudar, para comemorar, para chorar e
para acolher”.
Por Pamella Indaiá/Blog Educação - com adaptações
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