sexta-feira, 28 de março de 2014

A parceria entre ONGs e escolas para a melhoria do ensino público no Brasil

Mobilizar a sociedade, promover o acesso à escola, aperfeiçoar o processo de aprendizagem dos alunos e capacitar professores são algumas das atividades desenvolvidas por organizações não governamentais em parcerias com escolas da rede pública de ensino. Embora o poder público seja o principal responsável pela garantia da qualidade e do acesso ao ensino, tais organizações acabam, muitas vezes, suprindo as necessidades do setor a fim de contribuir para a melhoria do sistema educacional brasileiro e, consequentemente, para a transformação social do País.

Para que essa parceria seja efetiva, o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo – USP, Elie Ghanem, considera fundamental, primeiramente, que as ONGs apoiem as atividades que já estão sendo desenvolvidas pelos próprios profissionais das escolas, ou órgãos gestores, sem desprezar os esforços feitos anteriormente. Ghanem também considera importante que todos os atores envolvidos tenham disposição de aprender e de conhecer realidades sobre as quais, às vezes, dispõem de pouca informação. “Sem disposição para aprender nós teremos dificuldades para compreender a realidade em que estamos e para escolher caminhos que sejam adequados para superar dificuldades e aperfeiçoar aquilo que já é feito”, avalia.

Para a coordenadora executiva da ONG Auçuba – Comunicação e Educação do Recife, Paula Ferreira da Silva, é essencial ter ética e acreditar na atividade que está sendo desenvolvida. Silva acredita que é importante a colaboração de todos: governos, ONGs e sociedade. “Cada um tem seu papel importante na luta por uma educação de qualidade”, diz.

O diretor-presidente do Movimento de Educação Popular Integral e Promoção Social – Fé e Alegria, Padre Álvaro Negromonte, concorda: “a transparência e a atitude colaborativa devem ser a base do trabalho”. Já quanto aos desafios do trabalho em parceria na educação popular, Negromonte acredita que é preciso que o poder público consolide políticas específicas e averigue o trabalho das ONGs. “É preciso um acompanhamento garantidor de um serviço de qualidade”, afirma. Além disso, considera que o setor privado precisa ter mais consciência de responsabilidade social. “O governo precisa trabalhar no segundo setor essa consciência para que a parceria aconteça com mais clareza e possibilite desenvolver melhor o trabalho com o terceiro setor”, expõe.

Para Ghanem, o poder público tem dificuldade em fazer esse acompanhamento devido a uma “tradição de certa indiferença em relação a um trabalho colaborativo”, com diferentes segmentos da sociedade. “De modo geral, os órgãos superiores dos sistemas de ensino, dos sistemas escolares, estão despreparados e desatentos para uma colaboração efetiva nessa perspectiva”, afirma. Silva, por sua vez, acredita que os desafios são “inerentes de quem trabalha com educação e com o propósito de uma sociedade mais justa”.

Fé e Alegria

De atuação internacional, o Movimento de Educação Popular Integral e de Promoção Social – Fé e Alegria, originou-se na Venezuela, em 1955, e está, atualmente, em 21 países, atendendo diariamente mais de 1,5 milhão de crianças. Tendo chegado ao Brasil em 1981, hoje são cerca vinte mil crianças e adolescentes atendidos nos quinze estados onde está presente.

Com foco abrangente – educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, ensino técnico, educação não formal e contra turno escolar – os trabalhos, no país, são desenvolvidos nas escolas municipais, estaduais e em escolas próprias, localizadas nas periferias das grandes cidades e em áreas rurais. Para torná-los viáveis, o movimento conta com parceria do poder municipal, estadual, lideranças comunitárias e com empresas privadas.


De acordo com Negromonte, a demanda vem da comunidade onde o Fé e Alegria atua ou dos parceiros que querem desenvolver um trabalho específico na região. A partir disso, é feito um estudo sobre as necessidades locais, formação da liderança e formação das famílias. O padre explica que as atividades são adaptadas a essas necessidades e que o conteúdo trabalhado nas escolas próprias é desenvolvido de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases do Brasil e direcionado pelos valores constitutivos do movimento: solidariedade, respeito à diversidade de gêneros ou etnias, justiça, acolhimento e garantia de direitos. “O movimento busca um mundo mais participativo, colaborativo, onde todas as pessoas consigam ter sua dignidade garantida”, explica Negromonte.

Um grande bom sentimento

Fundada em 1989, a organização não governamental Auçuba – Comunicação e Educação do Recife, tem como foco a “comunicação como proposta sócio pedagógica de ensino-aprendizagem”. O nome auçuba é uma expressão Tupi que significa Grande Bom Sentimento, o que reflete a aspiração de seus fundadores.

A ONG realiza, há 25 anos, projetos de formação em linguagem audiovisual para jovens e crianças dentro das escolas públicas de diversas comunidades carentes do Recife. “O trabalho é desenvolvido em conjunto com os professores e gestores escolares e estruturado através de reuniões periódicas”, explica Silva. A ONG Auçuba tem atuação direta em Pernambuco e, através da Rede ANDI Brasil, atua em nove estados brasileiros, além do Distrito Federal.

Por Luana Chrispim / Blog Educação

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