Mobilizar
a sociedade, promover o acesso à escola, aperfeiçoar o processo de
aprendizagem dos alunos e capacitar professores são algumas das
atividades desenvolvidas por organizações não governamentais em
parcerias com escolas da rede pública de ensino. Embora o poder público
seja o principal responsável pela garantia da qualidade e do acesso ao
ensino, tais organizações acabam, muitas vezes, suprindo as necessidades
do setor a fim de contribuir para a melhoria do sistema educacional
brasileiro e, consequentemente, para a transformação social do País.
Para que essa parceria seja efetiva, o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo – USP,
Elie Ghanem, considera fundamental, primeiramente, que as ONGs apoiem
as atividades que já estão sendo desenvolvidas pelos próprios
profissionais das escolas, ou órgãos gestores, sem desprezar os esforços
feitos anteriormente. Ghanem também considera importante que todos os
atores envolvidos tenham disposição de aprender e de conhecer realidades
sobre as quais, às vezes, dispõem de pouca informação. “Sem disposição
para aprender nós teremos dificuldades para compreender a realidade em
que estamos e para escolher caminhos que sejam adequados para superar
dificuldades e aperfeiçoar aquilo que já é feito”, avalia.
Para a coordenadora executiva da ONG Auçuba – Comunicação e Educação do Recife,
Paula Ferreira da Silva, é essencial ter ética e acreditar na atividade
que está sendo desenvolvida. Silva acredita que é importante a
colaboração de todos: governos, ONGs e sociedade. “Cada um tem seu papel
importante na luta por uma educação de qualidade”, diz.
O diretor-presidente do Movimento de Educação Popular Integral e Promoção Social – Fé e Alegria,
Padre Álvaro Negromonte, concorda: “a transparência e a atitude
colaborativa devem ser a base do trabalho”. Já quanto aos desafios do
trabalho em parceria na educação popular, Negromonte acredita que é
preciso que o poder público consolide políticas específicas e averigue o
trabalho das ONGs. “É preciso um acompanhamento garantidor de um
serviço de qualidade”, afirma. Além disso, considera que o setor privado
precisa ter mais consciência de responsabilidade social. “O governo
precisa trabalhar no segundo setor essa consciência para que a parceria
aconteça com mais clareza e possibilite desenvolver melhor o trabalho
com o terceiro setor”, expõe.
Para Ghanem, o poder público tem dificuldade em fazer esse
acompanhamento devido a uma “tradição de certa indiferença em relação a
um trabalho colaborativo”, com diferentes segmentos da sociedade. “De
modo geral, os órgãos superiores dos sistemas de ensino, dos sistemas
escolares, estão despreparados e desatentos para uma colaboração efetiva
nessa perspectiva”, afirma. Silva, por sua vez, acredita que os
desafios são “inerentes de quem trabalha com educação e com o propósito
de uma sociedade mais justa”.
Fé e Alegria
De atuação internacional, o Movimento de Educação Popular Integral e de Promoção Social – Fé e Alegria,
originou-se na Venezuela, em 1955, e está, atualmente, em 21 países,
atendendo diariamente mais de 1,5 milhão de crianças. Tendo chegado ao
Brasil em 1981, hoje são cerca vinte mil crianças e adolescentes
atendidos nos quinze estados onde está presente.
Com foco abrangente – educação infantil, ensino fundamental, ensino
médio, ensino técnico, educação não formal e contra turno escolar – os
trabalhos, no país, são desenvolvidos nas escolas municipais, estaduais e
em escolas próprias, localizadas nas periferias das grandes cidades e
em áreas rurais. Para torná-los viáveis, o movimento conta com parceria
do poder municipal, estadual, lideranças comunitárias e com empresas
privadas.
De acordo com Negromonte, a demanda vem da comunidade onde o Fé e Alegria
atua ou dos parceiros que querem desenvolver um trabalho específico na
região. A partir disso, é feito um estudo sobre as necessidades locais,
formação da liderança e formação das famílias. O padre explica que as
atividades são adaptadas a essas necessidades e que o conteúdo
trabalhado nas escolas próprias é desenvolvido de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases do
Brasil e direcionado pelos valores constitutivos do movimento:
solidariedade, respeito à diversidade de gêneros ou etnias, justiça,
acolhimento e garantia de direitos. “O movimento busca um mundo mais
participativo, colaborativo, onde todas as pessoas consigam ter sua
dignidade garantida”, explica Negromonte.
Um grande bom sentimento
Fundada em 1989, a organização não governamental Auçuba – Comunicação e Educação do Recife, tem como foco a “comunicação como proposta sócio pedagógica de ensino-aprendizagem”. O nome auçuba é uma expressão Tupi que significa Grande Bom Sentimento, o que reflete a aspiração de seus fundadores.
A ONG realiza, há 25 anos, projetos de formação em linguagem
audiovisual para jovens e crianças dentro das escolas públicas de
diversas comunidades carentes do Recife. “O trabalho é desenvolvido em
conjunto com os professores e gestores escolares e estruturado através
de reuniões periódicas”, explica Silva. A ONG Auçuba tem atuação direta em Pernambuco e, através da Rede ANDI Brasil, atua em nove estados brasileiros, além do Distrito Federal.
Por Luana Chrispim / Blog Educação
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