Um dos pontos mais discutidos nas oficinas de capacitação de mobilizadores, especialmente naquelas com grande número de gestores educacionais e professores, é a necessidade de conhecer e respeitar a cultura do aluno, de sua família e de seu contexto social. Esse é um dos caminhos para ajudar a melhorar a capacidade de aprender, uma vez que a incorporação de saberes com os quais a criança – e o jovem também – convive desde seu nascimento ajuda a dar sentido ao que se quer ensinar.
O educador mineiro Tião Rocha tem vários exemplos de práticas educacionais bem sucedidas partindo desse princípio. Uma delas, bem conhecida, é a história da alfabetização de crianças no Vale do Jequitinhonha (MG) usando como recurso o “biscoito espremido”, tradição da culinária local. Por essa razão, ele recomenda aos professores que é preciso “levar o aluno a procurar a cultura popular primeiro dentro de casa, depois na rua e depois no bairro e a considerar todas essas informações como base para um projeto de educação”.
No Sertão do Pajeú, berço da poesia em Pernambuco, oficina de capacitação é encerrada com glosa
Participantes da Oficina em Tabira (PE) |
O Sertão do Pajeú, onde ficam localizados os municípios de Tabira e de Serra Talhada, Solidão, Carnaíba, Itapetim e Ingazeira, que também participaram da oficina, é chamado de berço da poesia. Lá, a criança aprende, desde pequena, a improvisar a poesia na hora, tendo como mote um acontecimento importante. Durante todo o ano há vários eventos reunindo os principais poetas que não apenas declamam seus poemas, mas, também, participam do que lá é conhecido como glosa. As mesas de glosa reúnem os melhores que, apresentados a um tema, improvisam sobre ele e vão respondendo ao que o outro recitou. Em algumas regiões do Brasil são conhecidos como repentistas, que se desafiam para deleite da plateia. Em alguns casos e regiões, os desafios são cantados ao som da viola.
Nada mais natural, nesse contexto, que vários grupos que se formaram para elaborar planos de mobilização para suas comunidades, tenham incluído a realização de atividades contemplando mesas de glosas com os pais e familiares. Uma das propostas é de que eventos importantes no calendário municipal, como semanas de mesas de glosas, incluam o tema interação família-escola-comunidade para os glosadores se desafiarem.
Para não fugir à tradição, um dos participantes da oficina, o poeta glosador Adeval Soares, encerrou a apresentação do plano de ação de seu grupo com um poema criado na hora:
Somos todos convidadosa convidar os demais:sindicatos – grupos – ONGS,todos meios sociais.Igrejas e autoridadesPastorais e entidades:religiosos, civis.Todo mundo dando a mãopara a edificaçãoda educação do País.Vamos nos organizarcom sensibilização,Juntos, nessa caminhadapara a mobilizaçãoMobilizar, de verdade,a nossa sociedadeé tarefa essencial.Pois, a luz da educação,necessita da junçãodo trabalho social.
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