quinta-feira, 28 de julho de 2011

Respeito à cultura e saberes da comunidade ajuda na interação família-escola

Um dos pontos mais discutidos nas oficinas de capacitação de mobilizadores, especialmente naquelas com grande número de gestores educacionais e professores, é a necessidade de conhecer e respeitar a cultura do aluno, de sua família e de seu contexto social. Esse é um dos caminhos para ajudar a melhorar a capacidade de aprender, uma vez que a incorporação de saberes com os quais a criança – e o jovem também – convive desde seu nascimento ajuda a dar sentido ao que se quer ensinar. 

O educador mineiro Tião Rocha tem vários exemplos de práticas educacionais bem sucedidas partindo desse princípio. Uma delas, bem conhecida, é a história da alfabetização de crianças no Vale do Jequitinhonha (MG) usando como recurso o “biscoito espremido”, tradição da culinária local. Por essa razão, ele recomenda aos professores que é preciso “levar o aluno a procurar a cultura popular primeiro dentro de casa, depois na rua e depois no bairro e a considerar todas essas informações como base para um projeto de educação”.

No Sertão do Pajeú, berço da poesia em Pernambuco, oficina de capacitação é encerrada com glosa 

Participantes da Oficina em Tabira (PE)
Na recente oficina em Tabira, PE, promovida pela secretaria municipal de educação local, muito se falou sobre Tião Rocha. E, estimulados por essas e outras reflexões, os participantes deram muitos exemplos de atividades que, incorporando aspectos importantes da cultura local, poderiam ajudar a aproximar família e escola. 

O Sertão do Pajeú, onde ficam localizados os municípios de Tabira e de Serra Talhada, Solidão, Carnaíba, Itapetim e Ingazeira, que também participaram da oficina, é chamado de berço da poesia. Lá, a criança aprende, desde pequena, a improvisar a poesia na hora, tendo como mote um acontecimento importante. Durante todo o ano há vários eventos reunindo os principais poetas que não apenas declamam seus poemas, mas, também, participam do que lá é conhecido como glosa. As mesas de glosa reúnem os melhores que, apresentados a um tema, improvisam sobre ele e vão respondendo ao que o outro recitou. Em algumas regiões do Brasil são conhecidos como repentistas, que se desafiam para deleite da plateia. Em alguns casos e regiões, os desafios são cantados ao som da viola. 

Nada mais natural, nesse contexto, que vários grupos que se formaram para elaborar planos de mobilização para suas comunidades, tenham incluído a realização de atividades contemplando mesas de glosas com os pais e familiares. Uma das propostas é de que eventos importantes no calendário municipal, como semanas de mesas de glosas, incluam o tema interação família-escola-comunidade para os glosadores se desafiarem. 

Para não fugir à tradição, um dos participantes da oficina, o poeta glosador Adeval Soares, encerrou a apresentação do plano de ação de seu grupo com um poema criado na hora:

Somos todos convidados
a convidar os demais:
sindicatos – grupos – ONGS,
todos meios sociais.
Igrejas e autoridades
Pastorais e entidades:
religiosos, civis.
Todo mundo dando a mão
para a edificação
da educação do País.
Vamos nos organizar
com sensibilização,
Juntos, nessa caminhada
para a mobilização
Mobilizar, de verdade,
a nossa sociedade
é tarefa essencial.
Pois, a luz da educação,
necessita da junção
do trabalho social.

 

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